«O rio quebra-se sobre mim. Sob os meus pés toda uma cidade submersa. Um figo bóia junto a mim, apoiada na pedra morta. O figo sobrepõe-se aos telhados das casas. Os chorões lançam os seus braços em queda. Por instantes tocam a água doce. As paredes gritam vidas passadas e falsas promessas, do fundo. Quase as ouço Mas a corrente fala mais alto e empurra-as numa profundidade penosa. Vai-lhes corroendo o cimento estrutural, a madeira das portas. Já nem as janelas se abrem. Foram histórias esquecidas, em livros fechados num suposto eterno.
Um barco passou. O rio tremeu. O tronco flutuante gemeu. Algum pedaço de tinta se deslocou de algum tecto. Mas nem esse emergiu. Deixou-se pousar no chão não visível. Já não interessa o seu passado. Os dedos sujos que lhe tocaram. O candeeiro que o iluminou. Os olhares vidrados para que as lágrimas não escorressem. Já não interessa o seu passado. O momento é feito de formigas a acasalarem na minha mão.»