«Eu e o sem jeito. O ser falta de jeito. Falta de jeito para tudo. Falta de jeito para todos.
As pessoas falam em não ter jeito. Não ter jeito para cozinhar, não ter jeito para cantar, para desenhar. E não ter jeito para ser? Não ter jeito para viver? Aprende-se? Talvez sim. Mas nunca será natural. Será sempre um ser e viver forçados.

Não saber o que fazer com as horas. Não saber o que fazer com a falta de jeito. Não saber como lhes dar o jeito. Esse "jeitinho" do "dá aí um jeitinho". Em que as coisas se encaixam provisoriamente, para durarem como devem naquele momento, só quando é necessário. Depois, voltam ao seu lugar, desajeitadas. E, quando é preciso, dá-se um jeitinho de novo.
Queria saber só dar esse jeitinho, no momento necessário. E depois
voltar ao meu sem jeito
e amar deliciosamente,
do meu jeito desajeitado,
esse momento já passado,
em que consegui dar um jeitinho
e provisoriamente encaixar-me
onde normalmente o sem jeito
não me deixa encaixar.

Não tenho jeito de me enjeitar. Já nem queria o jeito, queria só enjeitar-me. Mas não há jeito de m'enjeitar. Não há jeito, nem feito.»

2012.
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