A morte de River Phoenix atingiu-me apenas agora. (Tinha 4 anos quando ele morreu.)
Tem-me perturbado bastante a ideia de que ele terá para sempre 23 anos. Aqui, de longe, parece-me que ele está vivo. Apenas não cresce, não envelhece e, por isso, nunca morrerá.
Quando um velho morre, aceitamos a sua morte e louvamos a sua longa vida. Quando um jovem morre, não morre. A imagem dele com 23 anos permanece intacta. Compreendemos que não o veremos mais, mas não concebemos nunca que está morto. Como se esperássemos que algum dia voltasse a entrar por aquela porta e, passados 20 anos, tivesse ainda os mesmos 23 anos – a mesma cara que conhecemos dos últimos filmes. Ironicamente, parece que o segredo para uma vida eterna é morrer jovem. Porque os jovens nunca morrem.
Conheci River Phoenix muitos anos depois da sua morte e, no entanto, para mim, não morreu. Está demasiado vivo nos filmes de que gosto. Está demasiado vivo nos seus 23 anos, para morrer.
É a condição dos filmes também. Imortalizam. E imortalizam ainda mais um jovem de 23 anos, porque provam que está vivo. E, quando quiser, vejo-o, aos 15 na California com Reiner, aos 17 em Nova Iorque com Lumet, aos 21 em Oregon com Van Sant, aos 23 anos em Nashville Tennessee com Bogdanovich, vivo.
É o pior voyeurismo possível. É terrível, é mórbido. Espreitar para o mundo dos mortos quantas vezes quisermos. Desenterrá-lo, esgravatá-lo. E, aos jovens mortos, fazê-los viver. Como marionetas. Vê-los vivos, crê-los vivos, quando estão mortos. As cinzas espalhadas, um filme inacabado, uma família com menos um filho – menos um rio –, mil homenagens. E, no entanto, ficamos sempre à espera que um dia nos apareça à porta, ajeitando o seu cabelo despenteado e cerrando os olhos, do alto dos seus 23 anos.

2012.
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